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A Importância da Mulher no Acesso à Água e Saneamento

A água é um recurso essencial para a vida e o desenvolvimento humano, e o acesso adequado a ela é um direito fundamental de todas as pessoas, e pode-se dizer que é um sinônimo de dignidade. Nesse contexto, a mulher desempenha um papel crucial como principal coletora de água, agente fundamental na conservação e gestão da água, além de enfrentar diversos desafios também ajuda a promover  mudanças positivas na sociedade. 

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Fonte: Canva Pro

Neste artigo, exploraremos a relevância da presença feminina no cenário da água, abordando questões como a divisão de tarefas relacionadas ao abastecimento de água em muitos países e no cenário brasileiro, o impacto da falta de saneamento na vida das mulheres e a importância de seu destaque no meio científico e no mercado de trabalho voltado à água e gestão hídrica.

A Mulher e o Acesso à Água: Desafios e Oportunidades

Em muitos países, é comum a atribuição do papel de buscar água para as mulheres e crianças, geralmente por razões culturais e tradicionais. Essa responsabilidade consome uma parte significativa do tempo das mulheres, limitando suas oportunidades de educação e desenvolvimento pessoal.

Crianças, especialmente meninas, também são afetadas, uma vez que são frequentemente encarregadas de auxiliar nessa tarefa, resultando na interrupção de seus estudos e no prejuízo ao seu futuro acadêmico e profissional.

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Fonte: Canva Pro

Além disso, a falta de acesso à água potável e saneamento básico é um problema especialmente grave para as mulheres. A escassez de instalações sanitárias adequadas e a falta de higiene podem levar a questões de saúde, incluindo infecções urinárias, doenças diarreicas e até mesmo problemas reprodutivos. A ausência de água limpa e saneamento também afeta a dignidade e segurança da mulher, pois, em muitos casos, elas enfrentam riscos ao terem que percorrer longas distâncias ou usar áreas isoladas para suas necessidades básicas.

Os exemplos são muitos,  todos os anos, na África subsaariana, mulheres e meninas gastam um total de 40 bilhões de horas coletando água, estas horas poderiam ser utilizadas em  suas comunidades e empregos. As jovens têm seu desenvolvimento prejudicado, pois perdem a oportunidade de frequentar escolas e ter uma educação de qualidade, além de treinamentos e cursos que poderiam mudar suas vidas  (DROP4DROP, 2023).

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 Fonte: Canva Pro

A falta de acesso a água limpa traz ainda mais problemas graves, pois muitas vezes mulheres e crianças são fortemente afetadas por doenças transmitidas pela água devido à sua proximidade com água muitas vezes não potável. Além das chocantes mortes evitáveis por doenças transmitidas pela água, a educação das crianças é ainda mais prejudicada, com a perda de 443 milhões de dias escolares todos os anos devido a doenças relacionadas à água.

Nas comunidades que não há banheiro, ou seja, as pessoas praticam a defecação a céu aberto, as mulheres e meninas podem estar sujeitas a ataques sexuais, pois frequentemente precisam se deslocar para campos próximos à noite para ter privacidade (DROP4DROP, 2023).

O acesso à água limpa traz inúmeros benefícios, como por exemplo: aumenta os índices de alfabetização entre mulheres e meninas, o que as capacita a serem independentes e a avançarem em seu desenvolvimento futuro; empodera mulheres e traz benefícios econômicos para toda a comunidade; reduz o número de criminalidade e estupros contra mulheres e crianças.

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Fonte: Canva Pro

Mulheres e meninas que recebem a oportunidade de frequentar escolas e se capacitar são fundamentais para o desenvolvimento dos países, e proporcionar fácil acesso à água é um passo para romper o ciclo de subdesenvolvimento. A inclusão das opiniões e experiências das mulheres no planejamento e gerenciamento de projetos de água melhora sua utilidade e sustentabilidade.

Quando mulheres são empoderadas através do acesso à água potável e banheiros em casa, elas podem mudar seu mundo!

A mulher brasileira no acesso a água

No semiárido brasileiro é comum (mais não só lá) vermos mulheres com latas de água na cabeça em busca de uma fonte de água, que muitas vezes pode até não ser uma água potável. Essas mulheres são as responsáveis por fornecer à família um recurso que deveria ser acessível a todos (CUT, 2018).

De acordo com Mazé Morais (Secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares):

“Temos de provar a todo instante que somos capazes de dar conta do que nos foi mandado. Estamos o tempo todo em provação, seja na família, seja no trabalho. E prover a casa com água é uma tarefa que foi delegada às mulheres. É ela quem limpa e cozinha” (CUT, 2018).

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Fonte: Canva Pro

Há diversos projetos que procuram dar voz às mulheres e fornecer segurança hídrica, dentre eles o “Projeto Rio Lilás: a gestão das águas pelas mulheres- identidade, capacitação e integração”, coordenado pelo Professor Dimitri Fazito de Almeida Rezende (Universidade Federal de Minas Gerais). A iniciativa tem o objetivo de registrar a relação e a importância das mulheres do Vale do Jequitinhonha com a sua cultura, sua história, seu desenvolvimento e seu ambiente. É estruturado em três eixos: identidade, capacitação e integração (UFMG, 2022). 

“No primeiro eixo, Identidade, serão registradas as diferentes óticas acerca da água em diferentes regiões da bacia, identificando os principais problemas enfrentados pela população a partir das visões das mulheres e as aspirações destas em relação ao futuro, por meio de entrevistas e filmagens. O segundo eixo, Capacitação, tratará da produção de material informativo para auxiliar a atuação de mulheres da região nos comitês de gestão da água. [...] O terceiro eixo, por sua vez, tratará da Integração das visões das mulheres do Vale” (UFMG, 2022).

Outro projeto que promove acesso à água e saneamento a mulheres é o chamado “Mulheres: Saúde Ambiental e Saneamento Rural” com o tema Transformando a vida das Marias. Foi lançado em 2022 através de uma parceria entre a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI) e o Ministério da Saúde do Brasil, por meio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

“O objetivo do projeto é integrar e promover políticas públicas relacionadas à água e ao saneamento rural com a população mais atingida e vulnerável, principalmente as mulheres que vivem em regiões de seca e difícil acesso à água tratada. As ações serão focadas em entender como a população feminina é afetada por esses problemas e como conscientizar e reverter esse quadro” (OEI, 2022).

 A Mulher na Ciência e no Mercado de Trabalho da Água

Apesar dos desafios enfrentados pelas mulheres no que diz respeito ao acesso à água e saneamento, elas também têm um papel vital para desempenhar no meio científico e no mercado de trabalho relacionado à gestão hídrica. As mulheres possuem habilidades únicas e uma perspectiva diversificada que podem contribuir para a resolução de problemas complexos associados à água.

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 Fonte: Canva Pro

Ainda vemos que a participação de mulheres na ciência é menor se comparado a homens, segundo a cientista Marcia Barbosa (considerada pela ONU Mulheres uma das mulheres que mudou o mundo com a ciência) se formos olhar para participação de mulheres em eventos científicos é menos de 30% (AS MALUQUICES DA ÁGUA COM AS MULHERES NA CIÊNCIA, 2021).

É essencial incentivar a participação das mulheres no setor hídrico e do saneamento, não só por uma questão de justiça e igualdade, mas também porque sua inclusão leva a melhores resultados. Diversos estudos têm mostrado que empresas e organizações com maior representatividade feminina em suas equipes tendem a ser mais inovadoras, sustentáveis e eficientes.

O Trabalho da ONU para a Mulher na Água

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem se empenhado em promover a igualdade de gênero e o acesso à água e saneamento adequado. Através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outras agências, a ONU tem apoiado projetos que visam melhorar o acesso à água potável em comunidades carentes, focando na redução das desigualdades de gênero.

A ONU também promove a inclusão das mulheres no setor de água e saneamento, incentivando a formação e o desenvolvimento de lideranças femininas nessa área. Além disso, a organização trabalha para aumentar a conscientização sobre a importância do papel da mulher na gestão da água e na tomada de decisões relacionadas a políticas públicas hídricas.

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Fonte: Canva Pro

A mulher desempenha um papel central no acesso à água e saneamento, enfrentando desafios significativos, mas também trazendo uma perspectiva valiosa para soluções inovadoras. É essencial promover a igualdade de gênero no setor de água e saneamento, garantindo que as mulheres tenham acesso igualitário a oportunidades educacionais e profissionais. 

A valorização da participação feminina no meio científico e no mercado de trabalho relacionado à água é fundamental para enfrentar os desafios hídricos globais e construir um futuro sustentável para todos.

Referências:

CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES (CUT). A luta das mulheres pelo acesso e gestão pública da água, 2022.

DROP4DROP. Water And Women: The Importance of Gender Inclusive Development, 2023.

Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI). Projeto de saneamento e acesso à água para mulheres é lançado pela OEI no Brasil e Funasa, 2022.

Sommer, Marni. Where the Education System and Women's Bodies Collide: The Social and Health Impact of Girls' experiences of Menstruation and Schooling in Tanzania. Journal of Adolescence, Volume 33, Issue 4, 2010.

PELO VALE DO JEQUITINHONHA, UFMG. Projeto Rio Lilás: a gestão das águas pelas mulheres- identidade, capacitação e integração, 2022.

United Nations Development Programme (UNDP). Gender, Water, and Sanitation: A Policy Brief. 2006.

United Nations. Gender Equality and the Sustainable Development Goals. 2020.