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ESG e Circularidade da Água: O que sua empresa precisa saber

Em um cenário global marcado pelas mudanças climáticas, impactos na qualidade e quantidade hídrica, a água se tornou um ativo estratégico e um indicador de responsabilidade corporativa. A gestão da água no contexto ESG (Environmental, Social and Governance) é cada vez mais vista como uma obrigação moral, legal e econômica. Paralelamente, o conceito de circularidade da água surge como uma abordagem transformadora, capaz de alinhar sustentabilidade com inovação e competitividade empresarial. 

Este artigo tem como objetivo apresentar de forma clara e embasada o que as empresas precisam saber sobre ESG e circularidade da água, destacando boas práticas, referências científicas e caminhos para integrar esses temas às estratégias corporativas de forma eficaz e duradoura.

 

 

A água no contexto ESG

O conceito de ESG, criado no início dos anos 2000, ganhou força após a publicação do relatório “Who Cares Wins”, promovido pela ONU e pelo Banco Mundial, incentivando investidores a considerar critérios ambientais, sociais e de governança na tomada de decisão. No recorte ambiental, a gestão da água se destaca por estar diretamente ligada à resiliência climática, à eficiência operacional e ao cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável (ODS), em especial o ODS 6 – Água potável e saneamento. 

Segundo relatório da CDP (Carbon Disclosure Project, 2023), 44% das empresas que divulgaram informações (2.096) identificaram exposição a riscos inerentes relacionados à água que potencialmente representavam impacto financeiro ou estratégico substancial em seus negócios. No Brasil, essa realidade é ainda mais crítica, dado que o país concentra cerca de 12% da água doce do planeta, mas sofre com sua má distribuição, em muitos locais há má gestão e crescente contaminação.

 

 

O que é circularidade da água?

A circularidade da água é um conceito derivado da economia circular, que visa reduzir, reutilizar e reciclar recursos hídricos dentro dos processos produtivos, em contraposição ao modelo linear tradicional (captar, usar e descartar). Em vez de ver a água como um insumo descartável, a circularidade propõe vê-la como um recurso renovável, que pode e deve ser reintegrado aos ciclos produtivos. 

De acordo com estudo da Ellen MacArthur Foundation (2019), implementar práticas circulares em água pode reduzir em até 45% a captação hídrica em setores industriais de alto consumo, como mineração, alimentos, papel e química. Isso inclui técnicas como:

  • Reuso de efluentes tratados internamente;
  • Captação de águas pluviais;
  • Recirculação em circuitos fechados;
  • Tratamentos avançados por membranas e biorreatores;
  • Gestão digital de perdas e consumo.

Essas soluções não apenas reduzem o consumo e o descarte de água, mas também geram economia de energia, químicos e emissões de carbono.

 

O papel das empresas e as oportunidades de inovação

Integrar a circularidade da água nas práticas corporativas vai além da conformidade legal. É um motor de inovação, redução de riscos e vantagem competitiva. Empresas que adotam essa abordagem conquistam maior confiança do mercado, investidores e consumidores, e se alinham aos princípios da finança sustentável.

Um estudo do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD, 2021) demonstrou que companhias com boas práticas de gestão hídrica têm desempenho financeiro até 20% superior a seus pares. Isso se deve, em parte, ao menor impacto operacional em situações de escassez e à antecipação de exigências regulatórias, que estão se tornando mais rígidas no Brasil e no mundo.

Além disso, iniciativas como o Pacto Global da ONU – CEO Water Mandate, do qual diversas multinacionais fazem parte, oferecem diretrizes práticas para incorporar o uso responsável e circular da água às estratégias de negócio.

 

A legislação brasileira e o avanço das exigências

No Brasil, o marco legal mais relevante é a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97), que já estabelece a cobrança pelo uso da água e o incentivo ao uso racional. No entanto, estados como São Paulo e Minas Gerais vêm implementando normas específicas para reuso de água, principalmente em atividades industriais, o que pressiona empresas a investirem em novas tecnologias e certificações.

A Resolução CONAMA nº 54/2005, por exemplo, regulamenta a reutilização de efluentes tratados e, mais recentemente, o Plano Nacional de Recursos Hídricos (2022–2040) estabelece metas para ampliar a eficiência hídrica e o reuso no setor produtivo.

O avanço da regulação caminha ao lado das diretrizes ESG e exige das empresas transparência, rastreabilidade e métricas claras sobre o uso da água em seus processos.

Caminhos para implementação: por onde começar?

Para integrar ESG e circularidade da água, é fundamental que as empresas adotem uma abordagem estruturada e multidisciplinar. Abaixo, destacamos alguns passos fundamentais:

  1. Mapeamento do ciclo da água dentro das operações, identificando pontos de maior consumo e perdas;
  2. Diagnóstico técnico da viabilidade de reuso e recirculação interna;
  3. Engajamento de stakeholders, incluindo fornecedores, comunidades e órgãos reguladores;
  4. Investimento em tecnologias limpas, como sistemas de tratamento avançado, sensores e IoT;
  5. Capacitação da equipe e construção de uma cultura organizacional voltada para a sustentabilidade;
  6. Monitoramento e reporte transparente, com indicadores claros, como a pegada hídrica e o índice de reuso.

Essas práticas estão alinhadas aos Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, que estabelecem que os negócios têm responsabilidade de respeitar o direito humano à água.

Contribuição do Instituto Água Sustentável

O Instituto Água Sustentável (IAS) atua na promoção do uso responsável da água, fomentando o debate científico, educativo e técnico sobre temas como gestão hídrica, economia circular e ESG. Por meio de eventos, publicações, capacitações e apoio técnico, o IAS incentiva empresas e organizações a adotar uma postura proativa, baseada em evidências e compromisso com as futuras gerações. 

Entre os projetos de destaque, estão:

  • Séries educativas e podcasts sobre uso responsável da água;
  • Capacitações e workshops com especialistas em gestão hídrica corporativa;
  • Publicações e parcerias com universidades e centros de pesquisa.

A gestão da água no contexto ESG e a adoção de práticas de circularidade não são apenas uma tendência – são uma necessidade urgente. Empresas que não se adaptarem correm riscos crescentes de perda de competitividade, sanções regulatórias e danos à reputação. Por outro lado, aquelas que liderarem esse movimento poderão colher benefícios concretos e duradouros, além de contribuir efetivamente para um futuro mais sustentável.

Integrar água, ESG e inovação é um passo estratégico que toda empresa comprometida precisa dar.

Referências:

CDP (2023). Global Water Report

Ellen MacArthur Foundation (2019). Completing the Picture: How the Circular Economy Tackles Climate Change.

ONU Pacto Global – CEO Water Mandate

CONAMA nº 54/2005

Lei nº 9.433/1997 – Política Nacional de Recursos Hídricos

Plano Nacional de Recursos Hídricos (2022–2040)