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Enchentes Devastadoras: O Que Acontece no Rio Grande do Sul

Não é exagero quando se fala que as enchentes transformaram diversas cidades do Rio Grande Sul em um cenário de guerra, é um acontecimento devastador que mexeu com todo Brasil. Não há quem não se comova com as imagens, os vídeos e as notícias.

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           O episódio superou o recorde de 4,76 metros até então registado em 1941 quando o Lago Guaíba na grande Porto Alegre, e registrou uma elevação de 5,35 metros. Os diques, casas de bombas e comportas construídos em 1970 não foram capazes de segurar a água que invadiu quase toda a cidade! Mas por que isso aconteceu?

           Os acontecimentos tem um agravante ainda maior, segundo o Professor do Instituto de Hidráulica da UFRGS, Rodrigo Paiva, tudo aconteceu mais rápido, a população hoje é maior e as áreas de riscos ocupadas também são maiores do que em 1941 , ou seja, tudo contribuiu para que o impacto fosse maior (O GLOBO, 2024).

           Os intensos temporais são resultado da presença de uma massa de ar frio proveniente do sul (Argentina), que se estabeleceu sobre o Estado devido à influência de uma massa de ar seco e quente que se instalou no Centro do Brasil, essa mesma responsável pelas ondas de calor nos Estados do Centro-Oeste e Sudeste do país. Esse bloqueio tem impedido o avanço da massa de ar frio, resultando em uma região abaixo dela sujeita a intensa instabilidade e precipitação contínua, conforme explicam os meteorologistas da MetSul (ESTADÃO, 2024).

           A chuva semi-estacionária ocorreu em parte sobre a Serra e os Campos de Cima da Serra, áreas onde nascem grandes rios do Estado, como o Taquari e o Caí, que também testemunharam cheias históricas (ESTADÃO, 2024).

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           Segundo o Professor Pedro Luiz Côrtes (Instituto de Energia e Ambiente da USP) para esse cenário “diversos fatores se combinaram: a presença de frentes frias, a umidade proveniente do oceano e uma barreira de alta pressão” (JORNAL USP, 2024).

           Além disso, diversas cidades foram construídas em planícies de inundação, ou seja, áreas planas adjacentes aos rios e córregos que recebem regularmente água durante enchentes e períodos de chuva intensa. Essas áreas atuam como amortecedores naturais, absorvendo o excesso de água e ajudando a reduzir o impacto das cheias em áreas urbanas e rurais. Cidades como Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Ivoti, Portão, Viamão, Eldorado do Sul, Guaíba e Montenegro foram algumas das mais atingidas.

           De acordo com o Professor Marcelo Dutra e Silva (FURG):

"Cidades inteiras vão ter que mudar de lugar. É preciso afastar as infraestruturas urbanas desses ambientes de maior risco, que são as áreas mais baixas, planas e úmidas, as áreas de encostas, as margens de rios e as cidades que estão dentro de vales" (BBC NEWS BRASIL, 2024).

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Consequências das Enchentes e Alagamentos no Rio Grande do Sul

           As consequências foram diversas e o tempo para recuperação ainda não dá para se estimar. Há perdas materiais, prejuízos para diversos setores da indústria, a maior é a perda de vidas (humana e animal) que ainda estamos contabilizando.

           As enchentes e alagamentos afetaram 445 cidades, sendo que alguns bairros e cidades inteiras foram submersos e destruídos, provocando grande evacuação de pessoas para abrigos, estes que não são suficientes para as mais de 300 mil pessoas que estão fora de suas casas. Até o momento foram contabilizadas mais de 140 mortes, mas após o nível d’água baixar pode ser que o problema seja muito maior (AGÊNCIA BRASIL, 2024).

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           O Estado do Rio Grande do Sul já tinha sido afetado por enchentes e inundações em 2023, mais de uma vez, sendo a primeira em junho com 16 vítimas; em setembro com 53 pessoas mortas em decorrência da passagem de um ciclone extratropical e em novembro com impacto para mais de 700 mil pessoas afetadas devido as chuvas torrenciais (BBC NEWS BRASIL, 2024).

           Os principais prejuízos e impactos são:

- Prejuízos para população: a perda de vida é sem dúvida o maior dos impactos, até o momento mais de 100 óbitos já foram contabilizados e infelizmente esse número pode ainda ser imensamente superior!

A perda material é outro dano que deixou uma grande ferida na população, mas além dos danos materiais visíveis, como casas destruídas e perda de móveis, esses eventos têm um impacto profundo e duradouro na vida das pessoas e na economia local. Um dos efeitos mais imediatos das enchentes é a destruição de casas e propriedades.

- Danos materiais e perda de propriedade: famílias inteiras perdem seus lares, muitas vezes construídos ao longo de anos com trabalho árduo e economias sacrificadas. Além disso, os móveis e pertences pessoais, que representam não apenas valor material, mas também sentimental, são frequentemente arrastados pelas águas, resultando em perdas irreparáveis.

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- Impacto financeiro a longo prazo: os prejuízos financeiros não se limitam apenas ao momento da enchente. Os custos para reconstruir ou reparar as residências e substituir os pertences perdidos podem ser altos e muitas vezes não estão ao alcance das famílias afetadas. Além disso, o aumento do risco de enchentes pode levar a um encarecimento dos seguros de vida e imóvel no futuro, tornando ainda mais difícil para os moradores se protegerem contra eventos semelhantes. A Confederação Nacional de Municípios (CNM, 2024) aponta que os prejuízos n o setor habitacional é de 4,4 bilhões de reais.

- Prejuízos à saúde: as enchentes não afetam apenas as propriedades, mas também representam uma séria ameaça à saúde pública. A contaminação da água pode levar à propagação de doenças transmitidas pela água, como a leptospirose e hepatite A. Além disso, o contato com a água contaminada e o estresse causado pela perda de casa e pertences podem desencadear problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Além disso, o tratamento de doentes durante os socorros as vítimas tornam-se mais difícil, sendo que vemos muitos remédios faltando e hospitais devastados.

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- Ônus para os cofres públicos: os governos locais também sofrem um ônus significativo devido às enchentes. Os custos com operações de resgate, assistência às vítimas, reconstrução de infraestrutura danificada e medidas de prevenção e mitigação representam um peso considerável para os cofres públicos. Isso pode levar a cortes em outras áreas prioritárias e dificultar ainda mais a capacidade do governo de fornecer serviços essenciais à população.

- Prejuízos econômicos: as enchentes e inundações no Rio Grande do Sul causaram um impacto significativo nas atividades econômicas fundamentais do estado. Tanto a agricultura quanto a indústria são setores vitais da economia gaúcha e estão suscetíveis aos efeitos devastadores desses fenômenos naturais.

- Produção agrícola: as chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul já causaram prejuízos de 811 milhões de reais para o setor agrícola, esse é um dado divulgado pela CNM (CNM, 2024). Uma matéria divulgada pelo Canal Rural (2024) diz que para a cadeia tritícola (moinhos de trigo) os principais impactos dizem respeito aos danos do solo e a possível descapitalização dos produtores, segundo Elcio Bento (Analista da Safras & Mercado):

“A situação desoladora pela qual passa grande parte da população torna difícil falar em negócios. Ainda é complicado contabilizar os prejuízos e de que forma o quadro de oferta e demanda de trigo e derivados se ajustará após a catástrofe climática” (CANAL RURAL, 2024).

Em relação a produção de arroz, o Estado responde por 70% da produção nacional e os prejuízos foram diferentes dependendo da região. De acordo com o Gedeão Pereira (Presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) (AGÊNCIA BRASIL, 2024):

“O litoral foi seriamente impactado na cultura da soja, que ficou embaixo d’água. Isso é perda total. Mas já pegou bastante adiantada a colheita do arroz, acima dos 70%, 80%, o que colocou o arroz a salvo, a não ser por algum silo que ficou com 1 metro de água em sua base”.

[...] “Nos municípios da chamada Quarta Colônia – Santa Maria, Lajeado – a enchente levou praticamente tudo dos produtores. Não só a possível colheita, como também o maquinário e animais”.

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- Produção industrial: em relação o setor industrial a CNM (2024) pontuou que o prejuízo for de 151 milhões de reais. Alguns dados fornecidos pela XP Investimentos (2024):

CPFL: o evento climático afetou os segmentos de distribuição, transmissão e geração de energia. A controlada RGE tem 250 mil clientes sem energia, de um total de 3,1 milhões. Estima-se um impacto na receita da empresa em cerca de R$ 15 milhões, excluindo os danos à rede.

Equatorial: a empresa foi impactada através de sua distribuidora CEEE. Cerca de 188 mil clientes ficaram sem energia, de um total de 1,9 milhão atendidos. Estima-se um impacto na receita em cerca de R$ 10 milhões, sem considerar os danos à rede.

Empresas impactadas no setor de Mineração e Siderurgia: Gerdau, CSN e Usiminas 

Construtoras impactadas são Melnick, Tenda e MRV, sendo que a Melnick tem a maior exposição com ~100% de seus empreendimentos localizados no RS.

- Impactos a água e saneamento: os prejuízos diretos relacionados a abastecimento de água foi de 10,5 milhões de reais, já o prejuízo para o sistema de esgotamento sanitário é 15,8 milhões de reais (CNM, 2024). Mas se considerarmos o prejuízo para geração e distribuição de energia elétrica, 4,5 milhões de reais, os números são maiores, pois muitas bombas e equipamentos não podem operar sem energia elétrica.

As chuvas deixaram 854.486 mil pessoas sem abastecimento de água, só na capital Porto Alegre 85% da população ficou sem acesso a água (CNN, 2024; G1, 2024).

Ainda muita falta de água potável em diversas cidades do Estado, e isso é uma das maiores preocupações, sendo que há diversas campanhas para doação de água. Isso devido a grande procura em mercados que faz com que o produto acabe, a água que está contaminada e não pode ser consumida e a interrupção do abastecimento por algum motivo.

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O que podemos fazer para reduzir os danos?

Mapeamento de áreas de risco: É fundamental identificar as áreas mais suscetíveis a enchentes e inundações por meio de mapeamento preciso. Isso permite uma melhor gestão do território e direcionamento de recursos para áreas mais vulneráveis.

Investimento em infraestrutura: Construção e manutenção de sistemas de drenagem pluvial eficientes, diques e barragens podem ajudar a controlar o fluxo de água e reduzir o impacto das inundações. E manutenção desses sistemas!

Preservação de áreas verdes e de amortecimento: Conservar e restaurar áreas úmidas, florestas e zonas de amortecimento naturais pode ajudar a absorver a água da chuva e reduzir a velocidade do escoamento, diminuindo assim o risco de inundações.

Zoneamento urbano adequado: Implementar regulamentações de zoneamento que limitem o desenvolvimento em áreas de risco, evitando a construção em leitos de rios, encostas íngremes e áreas de inundação recorrente.

Educação e conscientização pública: Promover a conscientização sobre os riscos associados a enchentes e inundações, bem como educar a população sobre medidas de precaução e planos de evacuação em caso de emergência, pode salvar vidas e reduzir danos materiais.

Monitoramento e alerta precoce: Investir em sistemas de monitoramento meteorológico e hidrológico avançados, juntamente com a implementação de sistemas de alerta precoce, pode ajudar a prevenir perdas humanas e materiais, permitindo a evacuação oportuna de áreas ameaçadas.

Planejamento de uso do solo resiliente: Incorporar considerações sobre riscos de inundação no planejamento urbano e na concessão de licenças para novos empreendimentos, garantindo que sejam tomadas medidas para minimizar os danos causados por eventos extremos.

Fortalecimento das capacidades locais: Capacitar as autoridades locais e as comunidades afetadas com recursos e treinamento para lidar com situações de emergência, incluindo resposta a desastres e reconstrução pós-evento.

Ao adotar uma abordagem integrada que combine medidas estruturais e não estruturais, é possível reduzir significativamente os danos causados por enchentes e inundações no Rio Grande do Sul, protegendo vidas, propriedades e o meio ambiente.

          

Doe e ajude o Rio Grande do Sul:

CHAVE PIX: 53.188.741/0001-04

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  • Ação da Cidadania

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Sua generosidade pode fazer a diferença na vida daqueles que foram afetados por essa tragédia. Juntos, podemos oferecer esperança e apoio às comunidades que enfrentam esse momento difícil.

Referências:

AGÊNCIA BRASIL, 2024

BBC NEWS BRASIL, 2024

CANAL RURAL, 2024

CNM, 2024

ESTADÃO, 2024

G1, 2024

JORNAL USP, 2024
O GLOBO, 2024

XP INVESTIMENTOS, 2024

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