As Queimadas e Seus Impactos nos Recursos Hídricos: Um Olhar Profundo sobre o Brasil
As queimadas são um fenômeno recorrente em diversas partes do mundo, especialmente em regiões tropicais como o Brasil. Elas podem ocorrer de forma natural, mas, em muitos casos, são provocadas por ações humanas. Independentemente de sua origem, as queimadas têm consequências devastadoras para o meio ambiente, afetando diretamente a biodiversidade, o solo e, de maneira significativa, os recursos hídricos. Este artigo explora as causas e consequências das queimadas, com um foco especial em como elas impactam a água, um recurso vital para todos os seres vivos.
Causas e Consequências das Queimadas
As causas das queimadas são variadas e frequentemente interligadas. Naturalmente, elas podem ser desencadeadas por raios em áreas de vegetação seca, mas a maioria das queimadas é resultado de atividades humanas. No Brasil, práticas agrícolas, como o desmatamento para a criação de pastagens e o preparo do solo para o plantio, não são casos raros. Além disso, a expansão urbana e a falta de fiscalização contribuem para o aumento das queimadas ilegais.
As consequências das queimadas são extensas e devastadoras. Elas incluem a perda de biodiversidade, a degradação do solo e a liberação de grandes quantidades de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e metano, que contribuem para o aquecimento global.
Além disso, as queimadas destroem a cobertura vegetal, que é essencial para a manutenção da qualidade do solo e a regulação do ciclo da água. A vegetação atua como uma barreira natural que retém a umidade no solo e ajuda na absorção da água das chuvas. Sem essa proteção, o solo torna-se mais vulnerável à erosão e à desertificação.
Queimadas no Brasil
O Brasil é um dos países mais afetados pelas queimadas, especialmente na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. A Amazônia, por ser a maior floresta tropical do mundo, desempenha um papel crucial na regulação do clima global e no ciclo da água. As queimadas nesta região são frequentemente associadas ao desmatamento ilegal para a agricultura e a pecuária.
No Cerrado, que é conhecido como a "caixa d'água do Brasil" devido à sua importância na recarga de aquíferos, as queimadas afetam diretamente a disponibilidade de água. O Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do mundo, também sofre com as queimadas, que afetam não apenas a fauna e a flora locais, mas também os recursos hídricos que sustentam a vida selvagem e a atividade econômica na região.
Segundo um levantamento feito pelo MapBiomas (2024) “a área atingida pelo fogo no primeiro semestre deste ano foi de 4,48 milhões de hectares, sendo que 78% desse total ocorreu em vegetação nativa – a maioria em vegetação campestre (40%). Entre os biomas, a Amazônia registrou a maior área queimada, com 2,97 milhões de hectares – 66% do total atingido pelo fogo no país”.
Segundo o levantamento, no primeiro semestre de 2024 os estados com mais queimadas foram Roraima, Pará e Mato Grosso do Sul e juntos representam 67% do total das áreas atingidas pelo fogo, já no segundo semestre a maior concentração foi no Cerrado e Pantanal, sendo o Pantanal o mais atingido pelo fogo: 79% do total e no primeiro semestre de 2024 a área queimada teve um aumento de 529%.
Já na Mata Atlântica, 73 mil hectares foram devastados pelo fogo entre janeiro e junho de 2024, sendo que 71% estão concentrados em áreas agropecuárias (MapBiomas, 2024).
Mas as queimadas não se limitam somente a essas regiões, em comparação ao mesmo período de julho de 2023 o aumento da área atingida pelo fogo foi 119% maior (MapBiomas, 2024), é assustador e isso provoca um gigantesco impacto no meio ambiente e também na economia.
Nos mapas do Monitor de Fogo do MabBiomas (2024) é possível ver que a área queimada em junho de 2024 no Brasil foi de mais de quatro milhões de hectares, sendo os picos em janeiro e junho, o Estado mais afetado em junho de 2024 foi Corumbá.
De acordo com Lucas Guaraldo (IPAM Amazônia, 2024): “O fogo queimou 199 milhões de hectares, atingindo 68% de vegetação nativa, entre 1985 e 2023. A área queimada equivale a 23% de toda a extensão do País e supera o território de países como México, décimo terceiro maior do mundo.”
No Estado de São Paulo vimos a mídia noticiar diversos focos de incêndio no interior do estado, o município de São José do Rio Preto registrou 92% mais incêndio que em 2023, foram contabilizados 1.623 ocorrências de queimadas em áreas de vegetação nos oito primeiros meses de 2024 (DW, 2024). Em Morro Agudo o fogo destruiu 4,5 mil hectares de canaviais e áreas de preservação (uma das maiores do estado) (G1, 2024).
Segundo a Defesa Civil a área total atingida pelo fogo no estado foi de 34 mil hectares até agosto de 2024, sendo que 48 municípios estavam em estado de alerta máximo (CNN, 2024). Entre os dias 19 e 24 de agosto foram registrados 3.500 focos de incêndio e as condições climáticas contribuíram para espalhar o fogo e a fumaça, sendo que mais de 8 mil locais foram afetados, entre eles fazendas, chácaras, sítios, usinas e áreas preservadas (G1, 2024).
Impactos aos Recursos Hídricos
As queimadas têm um impacto direto e significativo nos recursos hídricos. A destruição da cobertura vegetal reduz a infiltração da água no solo, diminuindo a recarga de aquíferos e afetando a disponibilidade de água subterrânea. Além disso, a ausência de vegetação aumenta o escoamento superficial da água da chuva, o que pode levar à erosão do solo e à sedimentação de corpos d'água, como rios e reservatórios. Esse processo de assoreamento diminui a capacidade de armazenamento de água e pode comprometer a qualidade da água, aumentando a turbidez e o transporte de nutrientes e poluentes.
Outro efeito das queimadas nos recursos hídricos é o aumento da temperatura da água. Sem a vegetação para fornecer sombra, os corpos d'água ficam expostos à radiação solar direta, o que pode elevar a temperatura da água e afetar a sobrevivência de espécies aquáticas. A elevação da temperatura da água também pode acelerar o processo de evaporação, reduzindo ainda mais a disponibilidade de água em regiões já afetadas por secas.
Um destaque especial é a relação entre água e fogo no Pantanal, que é evidente: a drástica redução da superfície de água, associada a eventos extremos de seca, favorece a ocorrência e propagação de incêndios. Nos últimos 39 anos, o Pantanal foi o bioma brasileiro que mais secou, com a superfície de água em 2023 atingindo apenas 382 mil hectares, 61% abaixo da média histórica (MapBiomas, 2024). O ano de 2023 foi 50% mais seco que 2018 (ano da última grande cheia no bioma), em 2024, a situação piorou, com precipitações de janeiro a maio alcançando o menor nível desde 2020, isso resultou na ausência do esperado pico de cheia e no prolongamento da seca até setembro, aumentando o risco de incêndios, segundo Eduardo Rosa, do MapBiomas (2024).
As queimadas representam uma ameaça significativa para os recursos hídricos, a proteção das florestas e a promoção de práticas sustentáveis de uso da terra são fundamentais para garantir a disponibilidade de água para as gerações presentes e futuras. É essencial que políticas públicas eficazes sejam implementadas e que a sociedade civil se mobilize para combater as queimadas e seus impactos devastadores sobre o meio ambiente e, em particular, sobre nossos preciosos recursos hídricos.
Por isso, o Instituto Água Sustentável continua sua missão de conscientizar e promover ações para a preservação dos recursos hídricos, fundamentais para a vida e o bem-estar de todos os seres vivos.
O que fazer em caso de queimadas?
1. Evite áreas afetadas: se houver queimadas na sua região, evite se aproximar das áreas afetadas. A fumaça pode ser tóxica, e o fogo pode se espalhar rapidamente, colocando sua segurança em risco.
2. Feche portas e janelas: se você estiver em uma área próxima a queimadas, mantenha portas e janelas fechadas para evitar que a fumaça entre em sua casa. Use toalhas úmidas para vedar possíveis frestas e minimizar a entrada de fumaça.
3. Use máscaras apropriadas: se precisar sair de casa durante uma queimada, utilize máscaras N95 ou PFF2 para filtrar partículas da fumaça e proteger seu sistema respiratório. Máscaras de pano ou cirúrgicas comuns não são eficazes contra a fumaça densa.
4. Mantenha-se informado: acompanhe as notícias locais e os alertas das autoridades sobre a situação das queimadas. Siga orientações de evacuação e avisos de emergência para garantir sua segurança e de sua família.
5. Tenha um plano de evacuação: prepare um plano de evacuação para você e sua família, incluindo rotas de saída, pontos de encontro e um kit de emergência com documentos importantes, medicamentos, água e alimentos não perecíveis. Esteja sempre pronto para sair rapidamente, se necessário.
Referências:
CNN, 2024: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/o-que-sabemos-sobre-as-queimadas-no-interior-de-sp/
G1, 2024: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2024/08/31/sete-municipios-estao-com-focos-ativos-de-incendio-no-interior-de-sp-segundo-defesa-civil.ghtml
DW, 2024: https://www.dw.com/pt-br/queimadas-mudam-a-rotina-de-moradores-do-interior-de-são-paulo/a-70112808
G1, 2024: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2024/09/01/plantacoes-devastadas-e-veiculos-queimados-fantastico-mostra-avanco-das-chamas-no-interior-de-sp.ghtml
IPAM Amazônia, 2024: https://ipam.org.br/fogo-queimou-quase-200-milhoes-de-hectares-do-brasil-nos-ultimos-39-anos/
MapBiomas (2024): https://brasil.mapbiomas.org/2024/07/12/brasil-teve-448-milhoes-de-hectares-queimados-entre-janeiro-e-junho-deste-ano/
MabBiomas (2024): https://brasil.mapbiomas.org/wp-content/uploads/sites/4/2024/07/6_Boletim_fogo_Junho2024.pdf