Para onde vai um rio quando ele “morre”?
Quando um rio "morre", ou melhor dizendo, quando seca, ele não desaparece apenas da paisagem; suas águas deixam de sustentar a vida, tanto humana quanto ambiental. Os rios desempenham um papel crucial no abastecimento de água para comunidades, cidades e setores agrícolas e industriais. Além disso, são responsáveis pela manutenção dos ecossistemas, regulando ciclos naturais e oferecendo habitat para inúmeras espécies.
Quando um rio seca ou se torna severamente poluído, compromete o fornecimento de água potável e coloca em risco a sobrevivência de muitas formas de vida, desde pequenas espécies aquáticas até grandes predadores e, claro, a população humana.
O impacto de um rio "morto" vai além do meio ambiente. A escassez de água afeta diretamente a economia local, com a diminuição da produção agrícola e industrial, o aumento do custo da água e o deslocamento de populações que dependem desse recurso para sua subsistência. O desequilíbrio causado por um rio degradado ou desaparecido também agrava problemas de saúde pública e compromete o futuro de regiões inteiras, levando à perda de biodiversidade e aumentando as vulnerabilidades relacionadas às mudanças climáticas. Portanto, a preservação dos rios é uma questão urgente, não apenas ambiental, mas também social e econômica.
Alguns exemplos de rios que secaram
A escassez de água causada pelo desaparecimento de rios é uma realidade que já afeta diversas regiões do mundo, deixando comunidades inteiras sem abastecimento e comprometendo ecossistemas. Vivenciamos isso no Amazonas com o rio Solimões, o rio enfrenta a pior seca em 42 anos, sendo que diversos trechos as águas praticamente já desapareceram bem antes do que o previsto e isso continua acontecendo (G1, 2024).
Segundo a Defesa Civil, 330 mil pessoas sofrem com os impactos da estiagem que atingem o Estado do Amazonas, sendo que 62 municípios estão em estado de emergência ambiental (G1, 2024), além da falta de chuva, as queimadas agravam este cenário.
“Nos últimos 13 dias, a cota do rio Negro baixou mais de três metros de acordo com os dados do monitoramento feito pelo Porto de Manaus. A média de descida tem variado entre 25 a 27 centímetros ao dia”(AGÊNCIA BRASIL, 2024).
É um cenário desolador, as pessoas estão isoladas pois o meio de locomoção é o rio e precisam caminhar quilômetros para achar uma fonte de água.
O Brasil não está isolado, um exemplo emblemático dessa crise é o Mar de Aral, localizado na Ásia Central, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão. Desde 1960 o Mar de Aral vem secando e já perdeu 90% do seu tamanho original (OLHAR DIGITAL, 2024). O resultado foi uma devastação ambiental e socioeconômica, com a perda de empregos em setores como a pesca e o aumento da desertificação.
“A redução do Mar de Aral resulta da exploração excessiva dos rios que alimentavam o corpo d’água para projetos de irrigação em larga-escala, em especial de algodão. Os dois maiores rios da região alimentados por precipitação e derretimento do gelo das montanhas eram usados para as irrigações” (OLHAR DIGITAL, 2024).
Outro exemplo notável é o Rio Colorado, nos Estados Unidos. Conhecido por fornecer água para cerca de 40 milhões de pessoas em sete estados americanos e no México, o Colorado sofre há décadas com a superexploração. O uso intensivo da água para irrigação agrícola e o crescimento urbano esgotaram suas reservas, levando ao colapso de áreas inteiras que dependiam dele para abastecimento e produção.
Esse fenômeno tem forçado a implementação de severas medidas de conservação de água e deixado milhões de pessoas em alerta, com uma dependência crítica de uma fonte que se torna cada vez mais limitada. Além disso, pode colocar os dois países, EUA e México, em uma situação complicada e desencadear uma disputa por água.
“O fluxo do rio diminuiu cerca de 20% desde a virada do século, período definido por uma ‘megasseca’ que é a mais severa que o oeste já viu em 1.200 anos” (CLIMAINFO, 2023).
Mas a água desaparece? Vai para onde?
O que ocorre na bacia amazônica não é uma morte e desaparecimento completo dos rios, de acordo com o Marcos Castro (Professor da Universidade Federal do Amazonas) há diversas questões:
“As mudanças acontecem em âmbito global. Por exemplo, o fenômeno ‘El Niño’ (as águas do oceano esquentam) causa a diminuição da quantidade de chuvas. Temos um problema de pluviosidade (quantidade de chuva que cai em uma região) na Amazônia. Essa é a causa da seca. [...]
[...] “A Bacia Amazônica é como uma árvore; você tem o caule principal que vai drenar (escoar) a água para diversas ramificações (os rios). Se não há chuva no canal principal da árvore, não há água em outros canais, os outros canais ficam comprometidos pela falta de água”. (AMAZONAS ATUAL, 2024).
Em outros fatores que contribuem para escassez de água em diversos locais do globo é a superexploração do recurso hídrico que pode estar contribuindo para que a água saia daquele local, daquela bacia hidrográfica, e vai para outro local, como por exemplo a água que vai para o mar ou a grande quantidade de água que evapora e vai cair em forma de chuva em outro local, a água que é infiltrada e tem seu fluxo para outro corpo d’água.
As questões são inúmeras, pode sim o rio renascer após um tempo e voltar a fluir, mas para isso é preciso ações que ajudem a mitigar os problemas: diminuir as queimadas, usar a água de forma sustentável, ter políticas públicas aplicadas à conservação das águas, tratamento de efluente e resíduos para evitar a poluição.
Você já tinha pensado sobre essa questão: Para onde vai um rio quando ele “morre”?
Referências: